Como começar a escrever um livro: o planejamento

Como começar a escrever um livro é uma das palavras-chave mais pesquisada no Google entre aqueles que desejam se tornar escritores.

Isso porque ‘começar’ é mesmo a coisa mais difícil para quem quer escrever um livro!

Saber por onde começar é difícil porque, à princípio, não existem restrições para o que você pode fazer com as palavras. Nem quando, nem onde, nem como.

É por isso que precisamos começar a criá-las. Precisamos de método e precisamos de técnica.

Precisamos organizar o seu trabalho como escritor e deixá-lo com as mãos e o espírito livres para escrever. Sem ficar se perguntando a todo instante se poderia estar fazendo diferente, se poderia estar fazendo melhor.

Neste artigo, você vai aprender a utilizar um conjunto de cartas, especialmente desenhadas para escritores, que vão te ajudar a planejar e estruturar o seu livro do zero. Clique aqui para conhecer e apoiar o projeto.

Cada carta é um slot que você precisa preencher para ir encontrando o seu texto. Para criar a base e a estrutura do seu livro.

Esse planejamento será o seu guia! Nele, você estabelece os limites e define as linhas mestras que vão guiar o seu processo de escrita.

• • Como começar a escrever um livro
  • TEMA | Defina sobre o que quer escrever
  • PÚBLICO-ALVO | Defina para quem você vai escrever
  • FORMATO | Defina o formato e o tamanho em que vai escrever
  • GÊNERO | Defina o gênero que você quer escrever
  • PRAZO | Defina quando irá entregar
  • TÍTULO | Defina o nome do seu livro
  • SINOPSE | Escreva um parágrafo explicando sua história

*Este post faz parte do projeto A Saga do Escritor.

Como começar a escrever um livro: introdução

“Se escrever parece difícil, é porque realmente é difícil. É uma das coisas mais difíceis que as pessoas fazem”. – William Zinsser

Escritores são criaturas que se sentem bem operando na esfera da liberdade, da intuição.

Essa ideia de liberdade parece ser oposta à ideia da organização, palavra que para alguns pode manifestar uma rigidez que não combina com o processo criativo.

Há uma certa idealização da escrita como algo sublime, que passa por uma força divina ou energia desconhecida. Como se as ideias tivessem vida própria e surgissem apenas quando quisessem.

É possível que alguns já tenham experimentado aquele momento mágico em que as ideias fervilham e as mãos parecem que vão se movendo sem nenhuma dificuldade sobre o papel ou o teclado do computador, porém isso não ocorre na maioria do tempo.

Por isso, precisamos sim de rotina, mão na massa e execução para que a famosa inspiração seja convidada a aparecer.

Planejamento e estruturação são, então, importantíssimos para que a criatividade e inventividade possam surgir e não se percam por aí pelo ar, num lindo livro que poderia ter sido escrito, mas que nunca se concretizou por falta de base e sustentação.

TEMA | Defina sobre o que quer escrever.

“Antes de segurar a caneta, é preciso saber exatamente como se expressaria de viva voz o que se tem que dizer.” – Friedrich Nietzsche

Em primeiro lugar, é preciso decidir sobre o que você quer escrever.

E o tema escolhido precisa ser algo que te interesse muito, a ponto de você querer passar um bom tempo refletindo, pesquisando e escrevendo sobre ele.

Tema é uma palavra derivada do grego que significa “algo posto antes”, ou seja, aquilo que é colocado de início e que ajuda a determinar um curso futuro. O tema da sua história, portanto, deve ser uma afirmativa subjacente, ou uma crença derivada da sua visão de mundo.

O tema que você vai definir nesse momento é para ser algo genérico. Se tivesse que ser dito em uma palavra ou expressão, qual seria? Preconceito? Cobiça? Loucura? Ambição? Amizade? Amor? Superação? Revolução?

A melhor forma de encontrar um tema querido e com potencial de produzir uma história é cultivar as suas ideias. 

Algumas dicas para fazer ideias surgirem e serem, mais tarde, aprofundadas:

Preste atenção à sua volta

Escritores observam tudo o que se passa à sua volta. Eles observam o que está acontecendo no mundo, no local onde vive, no seu círculo social e de amizades.

Eles prestam atenção em tendências de comportamento, tendências políticas, tecnológicas e sociais. Dessa forma, é possível criar uma obra que esteja conectada com as questões atuais.

Ao mesmo tempo, se pergunte O que só você está vendo?

Tenha um bloco de notas

Muitas vezes temos insights e as ideias aparecem em um momento não muito oportuno, quando não podemos parar o que estamos fazendo e nos sentarmos na frente de um computador.

Ronald T. Kellogg no livro The Psychology of Writing diz que não somos escritores apenas quando nos sentamos para escrever. Escritores estão, a todo momento, resolvendo problemas — são como caçadores-coletores de ideias, temas, personagens. – Valter Nascimento

Para que as ideias não se percam, é importante ter sempre consigo um caderno, ou utilizar um bloco de notas no celular.

Anote qualquer ideia, mesmo que ela pareça boba num primeiro momento. Depois você vai relar com calma e vai avaliar o que faz sentido e o que não faz.

Descubra sua mensagem

Escolha a ideia que mais te instigue, esse será o seu tema. Em seguida, seria bom trabalhar com ela em uma folha em branco. Nesse primeiro momento você não precisa ser tão rígido, faça um brainstorming e vá anotando outras ideias e associações que surjam em sua cabeça quando pensa nesse tema.

Em seguida, descubra qual é a mensagem que você quer passar para os seus leitores. Mas, atenção, não confunda mensagem com “moral”.

A mensagem é um passo além do tema.

Mergulhe no assunto

Leia muito e se aprofunde no tema em que deseja trabalhar. É preciso saber o que está sendo publicado sobre esse assunto, mas não apenas isso. A leitura em geral ajuda a desbloquear o processo criativo.

Não é possível ser um bom escritor sem antes ter sido um bom leitor. É através de uma leitura consciente que se adquire a própria linguagem.

PÚBLICO-ALVO | Defina para quem você vai escrever. 

“Não pertenço àquela laia de maus escritores que dizem escrever apenas para si mesmos.” – Umberto Eco

Outra questão que precisa ser pensada de início é para quem você está escrevendo.

Quem será o seu leitor?  

Nenhum texto e nenhuma fala atinge duas pessoas da mesma maneira.

Cada pessoa tem um repertório cultural e uma habilidade diferente para entender o que está sendo dito. Por isso, pode ser útil imaginar a figura de um “leitor ideal”, alguém que você gostaria que apreciasse o seu texto.   

Isso vai te ajudar no desenvolvimento da voz narrativa, no planejamento das cenas e mesmo na construção da trama.

“Ah, mas isso não é possível, escrevo para milhões de pessoas”.

A ideia não é que você tenha de fato apenas um tipo específico de leitor em mente. Mas definir que tipo de pessoa você quer atingir servirá para tomar decisões a respeito de como será o seu livro e como você trabalhará certas questões.

Isso irá te ajudar também  a perceber que há coisas que são muito suas, mas não farão sentido para outras pessoas. 

Leitor ideal

Stephen King, por exemplo, afirma que escreve tendo a esposa como “leitor ideal”. Enquanto cria, pensa o que ela acharia dessa cena?.

Se acredita que ela não gostaria, limpa. Pode perder leitores que sejam radicalmente diferentes dela? Sim, mas isso é melhor do que criar um Frankenstein que não se dirige a ninguém.

Pense que características esse leitor ideal tem. Qual é sua idade, sexo, profissão, se é conservador, liberal, onde vive, que tipos de informação ele acessa, quais autores costuma ler etc.

FORMATO | Defina o formato e o tamanho do livro que você quer escrever.

“Uma coisa é uma história longa e outra é uma história alongada.” – Gabriel García Márquez

Você escreverá um livro de ficção ou não ficção?

No caso da literatura, será preciso pensar no gênero literário e em suas características.

Essa decisão pode depender do tipo de história que você deseja contar.

Por exemplo, se quer produzir uma fantasia épica que perpassa várias gerações, um romance (ou mesmo uma saga) pode ser melhor do que um conto. Caso esteja interessado em explorar a mente de um só personagem por vez, em um intervalo de tempo e espaço limitados, um livro de contos pode ser o ideal.

No caso da não ficção também será preciso definir a estrutura e o tom do livro. Será um livro informativo, analítico, um livro de memórias, uma biografia, um diário?

Comece pequeno

Para iniciar, talvez seja interessante trabalhar com um livro mais curto. A ideia de escrever um romance de 500 páginas pode ser paralisante. Em vez disso, escreva um pequeno livro de contos ou uma novela.

Projetos longos são assustadores quando ainda não estamos prontos para eles.

Se é um livro de contos, crônicas ou relatos, com quantos textos você irá trabalhar? Eles terão algum ponto em comum? Pense no livro com uma unidade, como um todo coerente.

GÊNERO | Defina o gênero que você quer escrever

“Eu li imensos livros que admirava, e pensei que gostaria de escrever algo do mesmo gênero algum dia”. – Naguib Mahfouz

Mesmo que você se interesse por diferentes gêneros, decida em qual (ou quais) você deseja se tornar um especialista.

Escolha aqueles com os quais você mais se identifica.

Faça para si mesmo as seguintes perguntas:

1. Quais gêneros você sente mais prazer em ler?

2. Que tipo de história você gostaria de começar a escrever?

ROMANCE

Uma história sobre um relacionamento amoroso entre duas pessoas, caracterizada por tensão sexual, desejo e idealismo. O autor mantém os dois separados a maior parte da história, mas acabam ficando juntos no final.

AVENTURA

Uma história que coloque o protagonista em perigo físico, caracterizada por missões emocionantes, que exige um herói uma postura corajosa e ousada.

FANTASIA

Uma história com elementos não-realistas, como poderes mágicos, animais falantes etc., caracterizada pela construção de um mundo imaginário com regras que só se aplicam dentro do próprio universo.

FICÇÃO CIENTÍFICA

Uma história que se passa no futuro, em universos paralelos ou em outras dimensões, caracterizada por conter idéias científicas e conceitos tecnológicos avançados.

SUSPENSE

Uma história com personagens em perigo. Este gênero muitas vezes envolve perseguição e fuga. As ameaças ao protagonista podem ser físicas, psicológicas, ou ambas. O cenário é parte importante da trama.

MISTÉRIO/CRIME

Uma história de crime que precisa ser resolvida, caracterizada pelo aparecimento de pistas que vão levando a uma tensão crescente.

REALISMO MÁGICO

Uma história com elementos mágicos ou fantásticos, que são percebidos como parte da vida comum dos personagens. Há também uma percepção do tempo como cíclico ao invés de linear.

SAGA FAMILIAR

Uma história de duas ou mais gerações de uma família, em que a trama gira em torno de coisas como negócios, propriedades, aventuras, tradições e maldições familiares.

POLICIAL

Uma história de mistério que envolve um policial ou detetive que resolve o crime. A trama depende dos aspectos tecnológicos ou forenses do trabalho policial, triagem e coleta de evidências, bem como os aspectos legais da criminologia.

Dependendo do gênero que você quer escrever, você terá que fazer muita pesquisa e se especializar em assuntos como psicologia, tecnologia, ciência, procedimentos forenses, direito, negócios, criminologia, história etc.

E dependendo do gênero que você quer escrever, você terá que dominar mais um elemento narrativo do que outro.

Alguns gêneros, por exemplo, exigem que você seja um exímio construtor de mundos. Outros, vão exigir uma capacidade de criar tensão e suspense. Outros, podem pedir diálogos muito bem trabalhados. E assim por diante.

Se você quer escrever romances, estude a psicologia das relações, converse com amigos que estejam passando problemas no namoro ou casamento, leia o perfil de pessoas em sites de relacionamentos, aprenda a descrever emoções, tente pensar em todas as formas que fazem uma pessoa se sentir atraída por outra etc.

Domine as convenções do gênero que você quer escrever!

PRAZO | Defina quando irá entregar

“Escreva primeiro e sempre. Pintura, música, amigos, cinema, tudo isso vem depois.” – Henry Miller

Se você não tem nenhum prazo externo para cumprir, você terá que estabelecer um por conta própria. E precisará cumpri-lo.

Sem um prazo para cumprir, fica impossível gerenciar o seu tempo e a sua motivação.

Defina o dia e, se possível, a hora em que o original será finalizado e entregue.

Crie uma forma de se comprometer com esta entrega. De preferência, arrume desde já um leitor beta, um revisor ou um editor. Alguém com quem você possa se comprometer a entregar o original na data estipulada.

TÍTULO | Defina o nome do seu livro

“O poder de síntese é a alma da inteligência.” – William Shakespeare

Agora é hora de dar um nome para o seu livro.

Na maioria das vezes, o título de um livro surge no fim do processo de escrita. É raro surgir antes.

Mas tudo bem, você pode dar um título provisório para o seu livro. Nada do que é definido na etapa de planejamento precisa ser definitivo.

O importante aqui é dar um nome para o seu trabalho. Atribuir um caráter palpável ao projeto que você irá se dedicar pelos próximos meses.

Um bom título deve evocar a história do livro. Ele é o primeiro contato do seu leitor com a obra. Tente um dos caminhos abaixo para pensar em um bom título. Inspire-se…

No tema chave do enredo

Qual é o tema principal da sua história? Amor proibido? Superação? Vingança? Pense em títulos que representem esse tema. Procure por palavras e expressões relacionadas:

Palavras relacionadas a Vingança no Dicionário Criativo: represália, revanche, revide, desforra, desagravo, castigo…

Expressões para Vingança no Dicionário Criativo: pagar na mesma moeda; olho por olho, dente por dente; acertar as contas; toma lá, dá cá…

• Exemplo: Doce Vingança (Nora Roberts)

No local onde se passa a história

O lugar onde se passa a história é importante dentro do seu enredo? Use o nome dele como título. Pode ser um lugar real ou fictício.

• Exemplo: O Conde de Monte Cristo (Alexandre Dumas)

Em um acontecimento ou elemento decisivo da trama

Utilize um evento ou elemento particular da trama, que seja decisivo para a história do livro, como inspiração para o seu título.

• Exemplo: Crime e Castigo (Dostoievski)

Em seu personagem principal

Dar o nome do protagonista ao livro pode ser uma solução simples e atraente para o título. É importante, no entanto, que o nome do protagonista seja marcante, memorável.

• Exemplos: Don Quixote (Miguel de Cervantes), Harry Potter (J.K. Rowling)

SINOPSE | Escreva um parágrafo explicando sua história

“Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução.” – Machado de Assis

Agora é hora de escrever sua história em um parágrafo.

Comece escrevendo uma frase que sintetize a história. O que de mais importante acontece na trama do livro?

Depois, aumente esta frase para um parágrafo de cinco frases.

• Primeira frase: Exponha o pano de fundo, o cenário e o protagonista da história.
• Segunda frase: Qual é o primeiro ponto de virada? O que acontece que coloca a história para andar?
• Terceira sentença: Quais são os obstáculos que os personagens principais vão enfrentar? Qual é o segundo ponto de virada?
• Quarta sentença: Qual é o clímax da sua trama?
• Quinta frase: Como a trama se resolve? Ainda que você não saiba os detalhes, crie uma hipótese de como sua história termina.

Como começar a escrever um livro: conclusão

Não ignore a etapa do planejamento! Ela é importantíssima para colocar o projeto do seu livro na direção correta, para deixar claro o caminho que você deve seguir.

Planejar poupa tempo e diminuiu o risco de bloqueios criativos e procrastinações.

Recapitulando:

• Defina sobre o que quer escrever
• Defina para quem você vai escrever
• Defina o formato e o tamanho em que vai escrever
• Defina o gênero que você quer escrever
• Defina quando irá entregar
• Defina o nome do seu livro
• Escreva um parágrafo explicando sua história

Este artigo foi escrito em conjunto com Julia Codo.

Deixe um comentário dizendo como é o processo de planejamento do seu livro.

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