Você tem ideias criativas? 

Quer saber se vale a pena investir nelas?

Então continue lendo e responda com sinceridade às perguntas abaixo.

Sempre defendi a desmistificação da criatividade, muitas vezes considerada um processo mágico e envolto numa aura de um superpoder reservado a poucos privilegiados.

O que eu vou dizer agora pode parecer estranho, mas está baseado na experiência de muitos anos como criativo, estudioso da criatividade e professor.

Não canso de dizer que criar é fácil. Difícil é quando você não conhece as técnicas apropriadas para ajudar seu cérebro a desenvolver a capacidade de quebrar padrões e desbloquear. Acredite: as técnicas funcionam.

Abaixo você vai conhecer uma delas. Ao criar algo que tenha o objetivo de ser criativo, você deve se fazer algumas perguntas simples. Não preciso dizer que é fundamental ser honesto consigo mesmo em seu julgamento! 

Dividi as perguntas em 3 categorias diferentes. Afinal, as ideias são diferentes, algumas são muito importantes e outras nem tanto.

*Este post faz parte do projeto A Saga do Escritor.

PARA QUALQUER IDEIA CRIATIVA

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1) A ideia é realmente criativa ou você gostou dela por estar na zona de conforto?

O sentimento de rejeição é apenas uma defesa de nosso sistema mental de crenças diante de uma novidade.

Se você acha, sinceramente, que sua ideia merece nota 10 com louvor, pode baixar essa bola que alguma coisa está errada. Eu não acredito em nota 10 para nada. Nota 10 é Papai Noel, Coelhinho da Páscoa, Saci. Uma boa fantasia, só isso.

Acredito, isso sim, em um máximo de 9, o que já é uma raridade, um feito extraordinário. Nada no universo merece a nota 10, que está relacionada ao conceito de perfeição, outro parceiro do bom velhinho. Porém, o 10 deve ser nosso alvo, como uma utopia pessoal. Não será alcançada nunca, mas servirá de motivação e bússola.

Diante deste paradigma, considero 100% de satisfação desastroso para o processo criativo. Uma ideia verdadeiramente criativa, inusitada, subversiva, provoca em qualquer ser humano normal dúvidas, insegurança, medo e ansiedade.

Quando uma ideia é confortável, muito provavelmente não é criativa. Não digo que não seja boa nem que não seja eficiente. Mas estamos aqui falando de criatividade e é sob este prisma que estou analisando o fenômeno.

Ironicamente, a ideia que nos atemoriza é aquela na qual devemos investir nossa energia. Não é garantido que seja criativa, mas tem uma boa chance de ser.

Em geral, nos incomodamos com o que é novo e diferente, não apenas com o que não gostamos. O sentimento de rejeição é apenas uma defesa de nosso sistema mental de crenças diante de uma novidade.

O novo é desconhecido. E o desconhecido, você sabe, provoca medo. Por isso, ficar incomodado com uma ideia não quer dizer, necessariamente, que ela seja desprezível. Dê outra chance, olhe pra ela no dia seguinte.

Deixe que seu cérebro se acostume com ela e perca o medo. Aí você vai ter uma visão mais realista e talvez acabe simpatizando com ela. Ou concluir que ela seja ruim mesmo.

2) A ideia é subversiva?

Procure enxergar o que ninguém viu ainda. Mude a posição da câmera mental. Permita-se desmantelar o senso comum, sem medo de parecer louco ou idiota.

Subversão é minha filosofia de vida. É olhar para tudo a minha volta e enxergar além do que as coisas são. Não se prender ao estabelecido. Aceitar que os códigos consagrados são fundamentais, mas se permitir subvertê-los de vez em quando.

Procure enxergar o que ninguém viu ainda. Mude a posição da câmera mental. Permita-se desmantelar o senso comum, sem medo de parecer louco ou idiota.

O criativo precisa ter a capacidade de pensar qualquer coisa. E quando digo qualquer coisa, quero dizer qualquer coisa mesmo.

Ao imaginar uma barbaridade, não quer dizer que você esteja avalizando este pensamento, considerando adotá-lo para sua vida. O fato de pensar o impensável não quer dizer que você esteja a um passo de se transformar em um psicopata.

Precisamos criar um personagem dentro de nós mesmos que seja descolado de nossas crenças e não tenha medo nem vergonha de pensar o que quiser. Um personagem amoral. Subversivo. De quem você não seja amigo nem parceiro. Com quem você tenha apenas uma relação profissional.

É fundamental um certo distanciamento para proteger o que você acredita em contraposição àquilo que o personagem vai destemidamente imaginar. Quem não alimenta este personagem, não cria este espaço livre. Quem não se dá o direito de libertar sua mente, não vai conseguir desbloquear criativamente.

Enfim, se a resposta à pergunta for “não”, tente melhorá-la ou partir para outra.

3) Chegou ao seu limite? Se parou, parou por quê?

Na verdade, não podemos ficar satisfeitos nunca. O criativo é, antes de tudo, um chato.

Esta pergunta não está relacionada à sua capacidade como criativo, mas se você utilizou o máximo de sua energia enquanto estava trabalhando na ideia.

Uma ideia só está pronta quando precisamos entregá-la. Antes disso, você precisa se dedicar e dar seu máximo para tentar fazer dela uma digna representante do mundo criativo.

Sempre pode ser melhor. Portanto, se prezamos nossa criatividade, se queremos ter orgulho de nossas ideias, se queremos ser reconhecidos por um trabalho diferenciado, não podemos nos dar ao luxo de ficar satisfeitos antes da hora.

Na verdade, não podemos ficar satisfeitos nunca. O criativo é, antes de tudo, um chato.

Pode ter certeza de que você vai ter ideias melhores amanhã. O cérebro está sempre evoluindo, encontrando novas conexões.

Sua experiência pessoal gera novos indutores. Então é normal acordar no dia seguinte e matar a charada de uma forma mais criativa que nos dias anteriores. Se isso acontecer e você não deu seu máximo até o fim, sinta-se culpado e chicoteie as próprias costas porque você merece.

Mas se foi ao seu limite, fique com a consciência tranquila. Não havia nada mais o que fazer. Cumpriu com sua obrigação consigo mesmo e com a ideia.

4) Se a pessoa que você mais odeia fosse a autora desta ideia, ela continuaria boa?

Precisamos nos desvincular da paternidade e imaginar que um desafeto foi o autor da proeza, o que nos arremessará a um patamar crítico elevadíssimo.

Somos seres muito ciumentos, emocionais e invejosos. Não queremos que as pessoas que a gente não gosta sejam bem sucedidas em nenhuma atividade. Bem, pelo menos eu sou assim.

Precisamos nos desvincular da paternidade e imaginar que um desafeto foi o autor da proeza, o que nos arremessará a um patamar crítico elevadíssimo.

A ideia que passa por este rigoroso e cruel escrutínio, tem grandes chances de ocupar uma boa posição no ranking criativo. 

5) O que acha que uma pessoa que você admira pela criatividade diria sobre sua ideia?

O amor no processo criativo é uma merda.

Temos um sentimento de amor e apego por nossas próprias ideias. Uma ideia é como um filho. O amor incondicional nos faz cegos. Não vemos ou fingimos não ver seus defeitos. O amor no processo criativo é uma merda. O importante é se a ideia é boa ou não. Se você concluir que não é, depois de dar todas as chances a ela, joga pra fora do ninho e bota outro ovo.

Enquanto você for o réu e o juiz, é provável que o julgamento não seja justo. Então considere-se suspeito e abra mão da toga. Não é qualquer um que tem o direito e a capacidade de julgar nossas ideias. Mas, então, quem poderá nos proteger?, diria um herói do passado.

Bom, ninguém melhor do que uma pessoa que você admira do ponto de vista criativo. Uma pessoa que você respeita. Ela pode estar viva ou morta. É claro que você não vai fazer a pergunta pessoalmente. Mas o simples fato de se colocar na posição dela, você terá acesso a novos insights.

É uma questão psicológica, pois, inconscientemente você está se livrando da responsabilidade pela opinião que, a grosso modo, é de outra pessoa. E está buscando enxergar o assunto sob outro ponto de vista, mudando a posição da câmera mental.

Atenção: amigos têm tendência a não querer magoá-lo e sua mãe muito menos. Não confie neles jamais.

PARA IDEIAS CRIATIVAS IMPORTANTES

6) Se sua vida dependesse desta ideia, estaria satisfeito?

Pense que o problema que você precisa solucionar é uma ameaça à sua vida se não resolvê-lo.

Quando estamos em perigo, nosso cérebro se desconecta de todos os padrões, de todo nosso verniz social e é capaz de realizar qualquer coisa para salvar nossas vidas.

E não há como desistir. Se você estiver na eminência de explodir junto com um armazém onde está aprisionado, me parece improvável que você desista de tentar escapar e se conformar com seu destino. “É, não tive nenhuma ideia então vou ficar aqui esperando a bomba explodir. Sempre soube que não era criativo mesmo”.

Então, pense que o problema que você precisa solucionar é uma ameaça à sua vida se não resolvê-lo. E se a ideia que você teve vai te livrar da passagem para a outra vida.

7) Você colocaria seu próprio dinheiro nesta ideia?

Uma ideia que passe por este crivo, pode não dar certo porque nunca podemos garantir nada, mas está totalmente em sintonia com sua visão.

Mesmo quem não é obcecado pela grana não pode ignorar a necessidade de dinheiro. Sem proventos, ninguém consegue sobreviver. Resultado: somos todos muito ciosos de nosso patrimônio financeiro.

Esta pergunta serve para auferir se a ideia é boa o suficiente pra você ou se apenas cumpriu tabela.

Enquanto criamos para outras pessoas, não corremos muito risco, não colocamos nossa sobrevivência em jogo. Por isso somos mais complacentes, permissivos e menos críticos. Mas se a grana é nossa, se o risco é nosso, se a possibilidade de não dar certo flutua sobre nossas cabeças, a coisa muda.

Uma ideia que passe por este crivo, pode não dar certo porque nunca podemos garantir nada, mas está totalmente em sintonia com sua visão. É provável que você se encha de energia e seja capaz de convencer a si mesmo e aos outros de seu valor.

8) Você colocaria esta ideia em seu portfólio?

O portfólio é um cardápio do nosso ego.

O ego é um componente importante para a espécie humana, contanto que ele não tome conta da sua vida. Precisamos mesmo ter autoestima e confiar em nossa capacidade pessoal e profissional, mas sem exageros. O portfólio é um cardápio do nosso ego.

Usamos o portfólio para demonstrar nossa capacidade profissional, resumindo nosso patrimônio intelectual em alguns trabalhos. O máximo que conseguimos atingir em termos qualitativos. Se você acha que sua ideia merece entrar para este clube exclusivo, pode considerá-la com perfil criativo.

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9) Você ficaria feliz se fosse lembrado por ser autor desta ideia depois de morto?

Se seus filhos contassem aos amigos com orgulho que foi você quem teve aquela ideia.

Legado é uma palavra de grande importância para muita gente. Queremos ser lembrados pelo que fomos, pelo que fizemos, pelo que acreditamos ter sido importante.

Se o trabalho que você está realizando é muito importante pra você, que pode mudar sua vida ou qualquer coisa que seja muito relevante, pense se ela teria a força de representá-lo para as gerações futuras.

Se seus filhos contassem aos amigos com orgulho que foi você quem teve aquela ideia. Se o portfólio é o resumo de sua história profissional, o seu legado post mortem é o resumo do portfólio.

Conclusão

Percebeu que as perguntas apontam para direções diferentes? Às vezes fazendo você ter paciência com as próprias ideias, às vezes querendo destrui-las impiedosamente?

Pois é, não há regras infalíveis no processo criativo. Seja para desbloquear, seja para criar. Tudo depende de variáveis que não temos controle e às vezes nem consciência.

Nenhuma técnica, nenhuma mandinga, nenhuma reza, nenhuma simpatia ou segredo é capaz de garantir uma ideia criativa e resultados bem-sucedidos. No mundo das ideias não existe certeza, só esperança.

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